Nunca conheci alguém que gostasse de mudar. Mudar de casa, de endereço, de lugar (se bem que tem gente que não gosta nem de mudar o corte do cabelo). Mudar é empacotar, remexer em coisas que estão lá na delas, física e emocionalmente.
Para mudar você precisa desconstruir, desarrumar, criar um pequeno caos. Abrir as portas, colocar o cotidiano na caixa, ficar surpreso ao rever coisas que você nem lembrava que existiam (mas guardou porque julgou serem importantes demais). Nessa hora começa a etapa da triagem e do descarte, do isso vai, isso não vai, isso vou doar. Chato assim.
É, não sou exceção. Também nunca gostei de mudanças. Mas dessa vez é diferente. Estou me mudando, ela também. Para a mesma casa, os dois.
Ela vai remexer nas coisas dela, vai descartar peças do passado, vai manter outras talvez para se desfazer mais pra frente. Outras permanecerão. Eu farei o mesmo. Terei o cuidado de esconder no lixo aquilo que minha memória e meu coração já descartaram faz tempo. É vida nova. Nada de lembranças empoeiradas fazendo o outro espirrar medos e incertezas.
Resolvemos que uma parte das nossas coisas avaliaremos juntos. Assim, de uma forma totalmente desapegada. Vamos decidir em consenso aquilo que vai ter a sorte de habitar a casa nova, por ser útil, bonito, simplesmente por ser estimado.
O que nascer dessa transição chamaremos de lar. Lar é isso: um pouco de cada um de nós formando o todo do lugar que agora é nosso. Uma das camas virou a do casal; a outra foi pro quarto de visitas. A sala tem o sofá que um dia foi só dela e tem a TV grande que um dia foi só minha. E tem também coisas que eram da loja e agora são de nós dois, não apenas porque pagamos juntos, mas porque escolhemos juntos, sonhamos juntos, realizamos juntos.
É assim na casa toda, até onde nada se vê, apenas se sente. Nela toda dá para sentir a mistura do nosso cheiro, a fusão das nossas energias, os gostos dos dois gerando um gosto só. Ah, tem também as duas gatas que eram só dela, e hoje uma gosta descaradamente mais de mim (até nisso há equilíbrio).
Pensando bem, mudar nem foi tão ruim assim. Foi destrutivo e construtivo ao mesmo tempo. Libertador graças ao que foi pro lixo. Equilibrado graças ao que faltava e hoje tem à vontade. Menos doloroso do que parecia, muito mais prazeroso do que fomos capazes de imaginar.
Mudar de novo? Claro. Certamente a vida vai dar o sinal de que a hora da mudança chegou. Aí vamos renovar o astral das nossas coisas, abrir mais uma vez as portas do cotidiano, descartar o supérfluo e o velho, abrir espaço para o novo. Um novo que ainda não escolhemos o nome, apenas o sobrenome: o dela mais o meu. E ele vai ter covinha e sorrisão que nem ela, talvez olhos azuis que nem eu e, certeza, uma vontade de mudar tudo de lugar na primeira oportunidade.
6 de nov. de 2009
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delicia de texto
ResponderExcluiré tudo verdade, desse jeitinho
sejam felizes